As histórias das pessoas que fazem de São Tomé e Príncipe um lugar especial
Edite e Fernanda, de 49 e 50 anos, ambas com pais de Cabo Verde, são desde 2002 as responsáveis pelo serviço no alojamento mais conhecido da praia Jale - o Jale ecolodge.
Os seus pais vieram trabalhar para São Tomé na roça de Porto Alegre, onde nasceram e cresceram juntas. Enquanto os pais trabalhavam na produção de coco, cacau, sabão, etc) elas brincavam com bonecas feitas de casca de coco e folha de bananeira. Desde pequenas que faziam fogueirinhas e cozinhavam com canequinhas e hoje servem também refeições aos turistas que ficam ou passam pela Jale. Os poff poff são imperdíveis.
Com vários irmãos e filhos em Portugal, passam muito tempo juntas. Dizem que as tartarugas são também a sua companhia e que acabam por ajudar também na desova entre os meses de Setembro e Março. Nunca sairam de São Tomé e dizem que se saissem iam a Portugal visitar os netinhos.
Provavelmente um dos últimos caboverdianos na ilha. Encontrámos o Leandro na antiga Roça da Paciência, agora desativada e já praticamente sem uso. Veio com a família para a ilha do Príncipe aos 18 anos, para trabalhar na Roça Sundy durante a época colonial, onde fazia um pouco de tudo. "Nessa altura éramos muitos a vir, caboverdianos, angolanos, moçambicanos".
Teve o seu primeiro filho cá, mas com o fim do contrato de trabalho, a mulher voltou para cabo verde com o filho, que foi mais tarde para a América, e não o voltou a ver sem ser por fotografias... Agora, já com outra idade, vive com a família perto da Roça da Paciência, para onde se desloca todos os dias para trabalhar nas cestas feitas com folha de palmeira fresca. Apanhada e preparada por ele, para depois a trabalhar na sala de artesanato, um espaço na antiga sanzala, que aproveita 2 quartos.
Parar e conversar com este senhor é um encanto, faz nos viajar no tempo e dar vida a um espaço que hoje é uma ruína.
Com 67 anos e 10 filhos, tem um dos ofícios já raros na ilha - faz barcos de madeira a remo que são utilizados para a pesca. Foi para a Vila Malanza (Sul de São Tomé) em garoto, ainda antes do 25 de Abril. Era servente de pedreiro e trabalhava para um patrão Português.
Hoje em dia, está reformado, não paga a capitania mas continua a fazer pesca de linha todos os dias - sai com o seu barco às 17h e o que mais pesca são peixes voadores - diz que chegam a ser 300 peixes de cada vez. A sua arte de construção é um processo longo e abilidoso - demora cerca de um mês para fazer um barco a remo o qual lhe pagam 2500 dobras (100 eur). Com o machado, o ancho e a raspadeira, consegue fazer de 1 árvore de oca 3 barcos.
Para além disso, é também um dos guias que faz o passeio ao mangal de Malanza - um passeio de cerca de 2 horas pelo rio Malanza, onde é suficiente para ouvir as suas histórias, apreciar a paisagem e com sorte ainda ver macacos.
25 anos, Guia Museu de São Tomé (Forte de São Sebastião)
Nasceu e cresceu no bairro Oque del rei, no centro de São Tomé, onde jogava a bola com “fruta pão” e brincava com carrinhos de lata, os za-za. O mais novo de 8 irmãos, desde pequenino visitava o Forte de São Sebastião, onde passava horas de volta do sino que ainda hoje está à entrada do edifício.
O gosto pela história levou-o a tirar o curso secundário de línguas e humanidades na escola preparatória de São Tomé e, mais tarde, fez mesmo um estágio no museu de São Tomé e Príncipe (inserido no Forte de São Sebastião). O gosto imenso pelo sítio e pela vontade de dar a conhecer a história do seu país fê-lo ficar e atualmente trabalha a tempo inteiro no museu, onde fascina qualquer um com as histórias que conta. Se lhe pedirem com jeitinho até o hino de São Tomé e Príncipe vos canta.
Quando não está no Forte, gosta de ler em português e inglês, livros que vai comprando nas feiras da capital. Gosta também de ir para o meio da natureza, acampar com o grupo de escuteiros. No futuro, pensa continuar a estudar e a especializar-se em turismo para um dia ter o seu próprio negócio. Para ele, “São Tomé tem um potencial turístico inacreditável”